quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Dia 27: Dia Mundial do gato



O Gato Que Sabia Ler

Bichos fenómenos, há muitos. O meu amigo Paciência, que é domador, tem uma data deles, desde o elefante equilibrista até à mosca bailarina.
Pulga que ele cace, em vez de a matar com a unha do dedo polegar, mete-a numa caixinha e ensina-a a fazer habilidades. E o mesmo se dá com as baratas, os mosquitos e as aranhas.


No outro dia o meu amigo Paciência levou-me a casa dele e mostrou-me uma barata-maestro. Eu fiquei de boca aberta e logo me arrependi de ter morto, dias antes, na minha cozinha, uma barata à vassourada, porque, assim como a barata do meu amigo Paciência era maestro, a que eu havia morto podia muito bem ser tenor, barítono ou violoncelista.
Além das baratas, o meu amigo Paciência mostrou-me outros bichinhos fenómenos: moscas, mosquitos, lagartos, aranhas e aranhiços; e mostrou-me um leão que fazia habilidades com uma bola; e mostrou-me uma pantera que tocava piano; e mostrou-me uma galinha que cacarejava a ópera "Aida" toda inteirinha.
Mas, de todos os fenómenos que ele me mostrou, o que mais me surpreendeu foi o gato que sabia ler. Eu vi-o, estendido no chão, com um romance em frente do focinho e folheando com a patinha, as páginas, uma após outra.
Contudo, e apesar de ser um gato que sabia ler, havia uma coisa que não o distinguia dos outros gatos: tinha um ódio mortal aos ratos. Rato que o meu amigo Paciência lhe apresentasse, chamava-lhe um figo.
Por fim, o gato que sabia ler deu em sair de casa. Dava longos passeios pelas ruas e entretinha-se a ler os cartazes colados nas paredes, os letreiros dos "elétricos", dos autocarros e os nomes das fitas anunciados nos programas às portas dos cinemas.
Um dia, o gato que sabia ler, não voltou a casa.Eu encontrei o meu amigo Paciência precisamente na altura em que andava à procura dele. Já havia percorrido a cidade quase toda e sentia-se a desanimar.
Eu, então acompanhei-o e fartámo-nos de andar de rua em rua, até que fomos encontrar o gato que sabia ler a uma esquina, sentado sobre as patas traseiras e a olhar muito interessado para a placa que dava o nome ao largo onde ele se encontrava.
O gato que sabia ler, encontrava-se à esquina do "Largo do Rato". E esperava, pacientemente que o rato aparecesse...
(Histórias de Pessoas e Bichos, 1959)

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